segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A Lógica do Discurso Político


Desempenhar um papel é a lógica do discurso político


Barthes, que tinha um requintado sentido da fórmula, escreveu algures: "A estupidez é a euforia do lugar". Queria ele dizer que é estúpido o discurso que se fixa nas suas certezas e se instala num lugar obtuso, sem vacilações nem recuos. Esta é hoje a regra do discurso político, reduzido que foi a uma fraseologia no interior da qual deixou de ser possível pensar. Como uma mão invisível, algo de tão coercivo se instalou que os próprios políticos, mal se retiram ou conquistam o exterior, sentem a necessidade de mostrar que tinham sido forçados a "representar" um papel pouco interessante e a entrar num "jogo de linguagem" em que, no fundo, não acreditam. O último a reivindicar distância crítica relativamente à "pobreza do debate político" e a exigir um suplemento de complexidade intelectual foi Marques Mendes. O problema é que este jogo de representações , que fixa os papéis a desempenhar e codifica os respectivos discursos, estendeu-se aos analistas políticos. Um caso paradigmático é o de Marcelo Rebelo de Sousa que, no seu exercício semanal de "overacting", representa o papel do louco que não apenas se toma por Professor como, muito mais grave que isso, se toma por Marcelo Rebelo de Sousa.


António Guerreiro no Expresso ( sublinhados meus)

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