De novo, insisto, o espectáculo desta
governação é penoso de se ver. Às segundas, terças, quartas, e sextas governa
Vítor Gaspar. Deixei em aberto as quintas-feiras onde o tandem Passos-Relvas
reúne um Conselho de Ministros sem alma, nem função, com ministros que o
Primeiro-Ministro mandou dizer ao Expresso que estão a prazo curto. Na
maioria dos casos vai pouco mais do que comentar medidas já anunciadas em
conferências de imprensa do Ministro das Finanças. Vá lá, Passos governa às
quintas. O fim-de-semana, Portas regressa do seu périplo e partilha os recados
do Expresso com Passos e faz alguns estragos à coligação onde não
participa nem de corpo inteiro. Deve lá deixar o chapéu da lavoura no
lugar.
O resultado é a mais absurda governação à vista
que é possível imaginar. Na segunda-feira (ou terça, tanto faz), Gaspar anuncia
um “enorme aumento de impostos” e diz quais são e como são. Na quinta-feira, os
ministros protestam e os que têm raízes no aparelho partidário previnem para a
revolta de baixo. Entretanto Portas e o CDS passaram a semana a contorcer-se
todos. Começa-se logo a pensar mudar as medidas que segunda-feira tinham sido
anunciadas, “abrandando-as”, “mitigando-as”, adiando-as, descobrindo que afinal
não vai ser preciso tanta “enormidade” porque sempre se pode cortar mais no
estado, ou seja disparar de novo sobre os funcionários públicos. A governação,
uso a palavra por caridade, torna-se de plasticina, responde a ameaças (de
Portas), rumores (dos ministros), ao medo da rua e das greves, ao
descontentamento partidário (veja-se os Açores), e aos comentários, aos jornais
e aos blogues. Num certo sentido é natural: responde àquilo que a fez no seu
topo, àquilo que basta para liderar uma organização partidária em plena
partidocracia institucionalizada, mas que não chega, nem de perto nem de longe
para governar um país em crise.
Já ouviram falar do Princípio de Peter?
Nota actual: o que se está a passar com o Orçamento de Estado nunca foi visto em democracia: um Orçamento feito na rua e nos jornais, com fugas, umas deliberadas, outras não, com "balões de ensaio" para ver no que dá, com anúncios absurdos e irresponsáveis de violentos, seguidos de pequenas moderações para enganar, com alvos genéricos e, quando a coisa corre mal, mais pancada na função pública. Se é deliberado, tipo pau seguido de cenoura para esconder o pau que fica, coloca o governo ao nível de um mau assessor de comunicação, a fazer truques de marketing. Para isso há melhores profissionais fora de Portugal que podem ser contratados.
Só este triste espectáculo devia levar o Presidente a pôr alguma ordem nesta trapalhada ambulante, ridícula e perigosa ao mesmo tempo.
Pacheco Pereira na Sábado (retirado do blogue Abrupto)
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