segunda-feira, 30 de maio de 2011

Lixo

Marcelo na TVI : Ideologia e Natureza

1. Importa reconhecê-lo: a televisão é uma impressionante máquina de produção ideológica, trabalhando incessantemente para apagar o seu próprio trabalho discursivo, empenhando-se sempre em fazer-se passar por coisa natural.


2. Veja-se o que se passou, em menos de 24 horas, com os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) na TVI: no domingo, em conversa com Júlio Magalhães, MRS teceu uma série de considerações "aritméticas" sobre a campanha e as hipóteses de PS e PSD, exponenciando a pobreza intelectual e a irrisão argumentativa daquele que é, para todos os efeitos, o modelo dominante de comentário (tele)político; na segunda-feira à noite, de novo na TVI, agora em diálogo com José Alberto Carvalho, MRS veio reagir aos ecos da sua intervenção na classe política, no fundo proclamando um princípio rudimentar: o seu direito a ter um ponto de vista pessoal (por certo não estranho à sua filiação no PSD).

3. Que aconteceu, então? Em menos de 24 horas, a questão fulcral da visão do mundo que as televisões predominantemente sustentam — sobretudo a visão do mundo político — foi transfigurada: de uma interrogação filosófica dos valores que sustentam tal visão passou-se para a defesa "heróica" da legitimidade de cada ponto de vista. Então MRS não tem direito a ter um ponto de vista, seja ele político ou mesmo claramente partidário? A resposta só pode ser uma: claro que sim.

4. O que assim se mascara é que o comentário político não é um dado adquirido, muito menos uma natureza que devamos encarar como uma imanência discursiva. Cada comentário político reflecte um modo de problematizar a política e, daí, um pensamento sobre ela. Assim, por exemplo, quando seguimos uma argumentação de um comentador como Pacheco Pereira, podemos estar mais ou menos de acordo com ela (também temos direito a um ponto de vista, certo?...), mas sabemos que se trata de tentar compreender a pluralidade do mundo para além de qualquer estereótipo imposto pelas linguagens televisivas. No caso de MRS, não se passa da mesma conjugação de retratos anedóticos das "personalidades" dos políticos com especulações politicamente frívolas sobre a "verdade" dos números.

5. Não por acaso, José Alberto Carvalho lembrou que o comentário político não pode agradar a "gregos e troianos". É uma máxima que reflecte o esplendor deste vazio televisivo: espalhar uma visão anedótica da política e daí lavar as mãos como Pilatos — se é de invocações simbólicas que se trata, sejamos bíblicos.

João Lopes no Sound+Vision

..Da Pior Espécie.

sound + vision: Marcelo Rebelo de Sousa, José Sócrates e Churchill...:

sábado, 28 de maio de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Para os Abrigos, Já!

Catroga está de volta...
… e já falou: se os portugueses forem “suficientemente inteligentes”, votam no PSD. Subentende-se que, se assim não acontecer, há que lhes retirar o direito de voto por... seis meses (ou mais).

No Câmara Corporativa

Eurosão

domingo, 22 de maio de 2011

A Mudança Almejada em Belém

A Cruel Realidade

Rito de Passagem
Sejamos claros: qualquer governo que saia das eleições de 5 de Junho dura só até à Páscoa de 2012. E vai com sorte (significa que conseguiu aprovar o próximo Orçamento). Se for o PS a liderar, com ou sem coligação, a direita tem um balão de oxigénio: muda a direcção do PSD, arruma as ideias e vai a votos coligada: PSD+CDS-PP. Se for o PSD a liderar, com maioria ou sem ela, Sócrates volta em ombros daqui a um ano. Nenhuma destas soluções resolve os nossos problemas. O desemprego atingirá patamares insustentáveis. Cavaco vai ficando cada vez pior no retrato. Bloggers oligofrénicos terão porventura de ser internados. Infelizmente, a realidade tem muita força.

Eduardo Pitta no Da Literatura

Onde Está o Poder

sábado, 21 de maio de 2011

O Tiro Pela Culatra

A Forma Errada de Fazer Campanha
Com seis anos de governação tomam-se muitas decisões, sendo que muitas delas não coincidem com o programa original, outras contrariam posições assumidas anteriormente e outras tantas desafiam até a natureza ideológica dos partidos. Podemos não ver isto como uma incoerência inadmissível, mas antes como real politik ou mera movimentação social.

A verdade é que basear uma campanha eleitoral nas contradições e erros dos outros pode ser uma estratégia contraproducente devido a esses tais seis anos de decisões, ou mais, em alguns casos. Para além do vazio discursivo, o tiro pode sempre sair pela culatra e depois é uma maçada.

Em Manual de Maus Costumes

A Europa em Crise

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Vampiros

WEHAVEKAOSINTHEGARDEN: Vampiros (Zeca Afonso): "Também o Vampirismo já entrou na era da Globalização"

O Celerado Acelerador

O Acelerador
Não sei se estão lembrados: o caso Portucale foi desencadeado pelo abate ilegal de três mil sobreiros na Herdade da Vargem Fresca, em Benavente, onde a empresa homónima pretendia construir um resort turístico. O abate foi possível graças a um despacho do governo Santana Lopes, assinado pelos ministros do Ambiente (Nobre Guedes), Agricultura (Costa Neves) e Turismo (Telmo Correia), poucos dias antes das legislativas de 2005. O caso chegou este ano a julgamento. Entre pessoal político, gestores e funcionários, os arguidos são onze: Abel Pinheiro, Carlos Calvário, José Manuel de Sousa, Luís Horta e Costa, António de Sousa Macedo, Manuel Rebelo, António Ferreira Gonçalves, Eunice Tinta, João Carvalho, Teresa Godinho e José António Valadas. São acusados de tráfico de influências e falsificação de documentos. Os ministros signatários do despacho (Guedes, Costa e Correia) não foram acusados de qualquer crime pelo Ministério Público.

Ontem, Miguel Relvas, antigo e actual secretário-geral do PSD, foi ouvido como testemunha do processo. Para espanto dos juízes, que se mostraram admirados com a intervenção do secretário-geral de um partido em questões governamentais (exemplo: alargamento da concessão de auto-estradas), Relvas declarou ter acelerado processos entre autarquias e o governo de Santana Lopes em nome do interesse público. Não é extraordinário?

Eduardo Pitta no Da Literatura

O Regresso do Velho Senhor

quinta-feira, 19 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

terça-feira, 17 de maio de 2011

A Coisa Aqui Está Preta (II)

Vira o Disco e Toca o Mesmo

A Coisa Aqui Está Preta (I)

Perdido na Tribo
Passos : "casei com Àfrica" e "sou o mais africano de todos os candidatos"

Pedro Vieira no Arrastão

domingo, 15 de maio de 2011

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Salvações

A vida compraz-se, às vezes, em oferecer-nos compêndios alegóricos da realidade, ou melhor, citações impecavelmente escolhidas do grande texto da História que vivemos. Nos corredores do metro, no Primeiro de Maio, juntam-se milhares de trabalhadores endomingados, novos e velhos, e com as suas famílias vão alegres e despreocupados rumo à Feira de Paris, ao Campo de Marte ou ao Bosque de Bolonha, cada um deles com o seu ramo de “muguet” na mão. Estão felizes, almoçaram bem, é o seu feriado, a sua festividade. Sentados no chão dum corredor, dois estudantes hirsutos e barbudos, com guitarras, cantam uma canção marcial e revolucionária, da qual só retenho este trecho:”Trabalhadores, ergam as barricadas”. Os proletários, sem abrandarem a marcha, lançam-lhes um olhar de reprovação, sentindo-se chocados, quase ofendidos. Nada mais fora do contexto do que aqueles mancebos a falar de barricadas, lutas e conflitos num dia de distração, entre tantos dias de trabalho. A presença desses estudantes, a sua atitude, a sua intenção, é tão vã e ilusória como a dessas mulheres do Exército de Salvação que se postam à porta dos bordéis para tenta catequizar os putanheiros.


Júlio Ramón Ribeyro em Prosas Apátridas

Como Subir nas Sondagens Sem Fazer Força

O Incontinente

Entrevistado hoje pelo Público, Catroga compara Sócrates a Hitler: «O Hitler tinha o povo atrás de si até à derrocada, até à fase final da guerra. Faz parte das características dos demagogos conseguirem arrastar multidões.» Com isto, este indivíduo, que nunca foi eleito para coisa nenhuma, insulta milhões de portugueses. A senilidade não desculpa tudo. O putativo candidato a ministro das Finanças de um governo do PSD vai acabar por ser o coveiro do partido de Passos Coelho. Por este andar, o PSD nem uma derrota honrosa consegue.


[Imagem: detalhe da capa do Público, com foto de Enric Vives-Rubio.]

Eduardo Pitta no Da Literatura

Campanhas Eleitorais

terça-feira, 10 de maio de 2011

É Isto o PSD!

É Isto o PSD?
Repito o que disse há dois meses: a gerontocracia do cavaquismo reloaded capturou o PSD. Catroga, que em Novembro próximo completa 70 anos, é candidato a ministro das Finanças de um futuro governo do PSD. Verdade que, para tanto, é preciso que o PSD ganhe as eleições com maioria absoluta. Se as ganhar com maioria relativa terá de negociar com um parceiro. E Catroga está longe de ser consensual. Não é um problema de idade, é uma questão de credibilidade. Vai uma aposta em como o CDS-PP veta o nome? Mais uma vez, Belém põe em risco o resultado eleitoral do PSD. Em 2009, o Belémgate liquidou Manuela Ferreira Leite. Neste momento, a cada nova aparição de Catroga, milhares de potenciais eleitores do PSD arrepiam caminho. Foi penoso assistir ontem ao Prós & Contras: Catroga perdeu o decoro, exaltou-se, meteu os pés pelas mãos, engasgou-se, levou um raspanete de António Pires de Lima, foi desmentido por Silva Pereira (em matéria de privatização da CGD) e por economistas presentes na sala (em matéria de impostos), ouviu Carlos Coelho dizer que não tinha percecebido patavina da charla... e António Esteves Martins sublinhar o eco indecoroso do debate. Pior não era possível. Como é que uma direcção que apostou na mudança se deixa enredar na teia deste populismo serôdio? Sabemos hoje que o famoso episódio do Blackberry é uma marca de carácter.

Eduardo Pitta no Da Literatura

Tempos Modernos