segunda-feira, 12 de março de 2012

Obrigatório - Não Perca!


“…É preciso destituir esta “fala” sobre os livros endereçada a quem presumidamente pouco ou nada sabe. Porque o contrário é que é necessário supor: que todo o discurso tem como interlocutor alguém que sabe muito mais. E isto tanto vale para as manifestações onde se difundem títulos de livros e nomes de autores, com para a crítica, cujas regras, protocolos e modos discursivos foram completamente subvertidos e adulterados pelo estúpido imperativo de aconselhar, de dizer implícita ou explicitamente que é “obrigatório”, de presumir a incapacidade e a falta de saber de quem está do outro lado. A crítica  de um livro que não suponha a inteligência e a soberania intelectual do leitor entra imediatamente numa outra categoria: a do marketing, a da difusão, a da propaganda. Não há nada a difundir, nada a aconselhar, nada que seja obrigatório. Presumir o contrário é entrar fatalmente no discurso da estupidez que se manifesta em injunções deste tipo: “Este livro faz-lhe falta, aceite o meu conselho”. Conseguir, no entanto, que alguém sinta, por si, em total soberania, uma falta que não sentira antes, isso sim, é a única tarefa capaz de nos salvar da horda triunfante de defensores dos livros e da literatura, dos quais, todavia, ela precisa de ser salva.”

António Guerreiro no Expresso

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