quinta-feira, 26 de abril de 2012

Também Já "Tive" Um Pobrezinho


Numa tarde de um domingo de Junho, estava eu sozinho em casa a estudar para um exame, quando tocaram à porta. Fui ver quem era. Era um pedinte, velhinho simpático, que me pediu comida. Advertiu-me desde logo que não queria dinheiro, só comida.Fui ao frigorífico, recolhi algumas coisas e dei-lhe.

No domingo seguinte, o velhote voltou a bater à porta. Trazia os recipientes que eu lhe entregara com a comida. Desta vez os meus pais estavam em casa e foi a minha mãe que se encarregou da tarefa de lhe arranjar alguns alimentos.
Não sei a conversa que terão tido mas, na semana seguinte, à hora do almoço, a minha mãe disse para a empregada:

Prepare a comida do pedinte, antes de servir o almoço.
O pedinte chegou à hora habitual . Naquele e em muitos outros domingos que se seguiram. No bornel, não levava os restos do nosso almoço. Levava o seu quinhão pois, nas contas do almoço de domingo, a minha mãe já contava com ele, como se de um convidado se tratasse.
Foi assim que eu aprendi a tratar os pedintes que têm fome. A dar-lhes uma parte do que é meu e não as sobras.

É por isso que me indigno com as campanhas que visam branquear a miséria de muitos, com uma solidariedade envergonhada, que serve para tranquilizar algumas consciências, mas não para resolver os problemas de quem tem fome.
Isto não vai lá com cantigas!
Carlos Barbosa de Oliveira nas Crónicas do Rochedo

Sem comentários: