terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Vitória das Formigas


  O Governo de Portugal está a ser vítima de uma enorme injustiça.
Jornalistas, comentadores, cidadãos em geral, acusam-no de um défice de comunicação, quando a realidade demonstra o contrário. Este é o Executivo que tem levado a criatividade das formas comunicacionais ao limite máximo, sem paralelo com nenhum anterior. O ministro das Finanças utilizou os quadros de Excel para desenhar os indicadores macroeconómicos de 2012. Face ao resvalar do défice e à escalada do desemprego não hesitou em deslumbrar o Conselho de Estado com um poderoso slide show em Power Point, que deve ter dissipado todas as dúvidas e lançado luz nos espíritos mais céticos. Mas o primeiro-ministro foi ainda mais longe. Depois de prometer um ataque frontalao rendimento do trabalho, em 7 de setembro, Passos regenerou-se, ontem, após um encontro com os parceiros sociais, fazendo um inédito anúncio sobre as medidas que-não-vai tomar.

 Mas, para que ninguém fique excluído deste abraço comunicacional, o ministro da Administração Interna brindou a infância e as camadas mais sensíveis ao pensamento mágico com um dos tesouros de La Fontaine, celebrando a vitória final das formigas depois do inverno da austeridade (numa alusão críptica e subtil à novela A Metamorfose, de Kafka, em que o personagem Gregor se transforma num inseto). Não. O problema não reside no défice de comunicação, mas sim na teimosia da realidade. Na sua bruta indiferença, ela permanece insensível à incansável estratégia do diretório e dos seus representantes em Portugal. A realidade ainda não se convenceu de que uma política que destrói o tecido económico e devasta as relações sociais é a única via para retomar a prosperidade económica e recuperar a soberania perdida. Tanto pior para a realidade.
 
Viriato Soromenho Marques

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