domingo, 4 de outubro de 2009

Cavaco Em Quinze Linhas


…Quando Cavaco Silva foi eleito, eu escrevi aqui que nunca tinha sido devoto do culto.
Nunca lhe conheci um pensamento politico que não fosse estratégico apenas para si próprio nem agenda politica que não fosse a do seu interesse pessoal. Nunca o vi gostar de correr riscos nem ter coragem nos momentos difíceis – quer em relação ao país quer em relação ao próprio PSD, que, em grande parte, ainda vive na ilusão de que Cavaco pertence à sua família política, como se ele tivesse alguma família política que não a sua própria. Mas escrevi também que, uma vez eleito, ele passava a ser o Presidente de todos os portugueses e também o meu.
Isso acabou terça-feira passada. O homem que se dirigiu ao país como Presidente de todos os portugueses já não o é mais. Colocou-se a si mesmo como Presidente de uma facção – dos devotos que lhe restam ou da maioria silenciosa e ignorante que não segue ou não entende a gravidade do que se passou.
Por decisão própria, o Presidente da Republica tornou-se neste momento o principal factor de instabilidade, o principal obstáculo ao regular funcionamento das instituições democráticas, que jurou defender. Nada mais será como dantes. E não apenas entre o Presidente e o futuro governo: entre o Presidente e o país.

Miguel de Sousa Tavares no Expresso

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