sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fado Imperfeito


«[...] Perante uma acusação tão grave, era de esperar que o dr. Cavaco apresentasse provas de uma absoluta solidez. Não apresentou. Disse, para começar, que nunca falara de “escutas”. Mas Fernando Lima falara já em “vigilância” (coisa que Belém nunca taxativamente desmentiu); e ele mesmo avisou, em 18 de Setembro, que se iria informar a sério sobre “questões de segurança” e, em particular, sobre a segurança do seu computador e dos computadores da Presidência. Estas conjecturas (as de Lima e as de Cavaco) são, como se perceberá, inteiramente gratuitas. Podem vir do excesso de zelo de um assessor ou dois, como podem vir da simples fantasia do dr. Cavaco. Não acrescentam nada e nem vagamente fundamentam a teoria da “conspiração”.
Face ao discurso do Presidente, não há qualquer motivo para acreditar nele.
Tanto mais quanto o dr. Cavaco toma como um “ultimato” as “declarações” de algumas “destacadas personalidades” do PS (que, de facto, não passam de figuras de terceira ordem), exigindo que ele explicasse a colaboração de membros da sua Casa Civil no programa do PSD. Fora que essa colaboração é provavelmente falsa, até Cavaco reconhece que jamais se limitou a liberdade cívica e política a nenhum funcionário de nenhum antigo Presidente. Mas, reconhecendo isto, não hesitou em usar o episódio como base essencial da conspiração que terça-feira revelou ao país boquiaberto. Com o resultado de que os portugueses ficaram a saber que ele não confia no primeiro-ministro. E, agora, de certeza, o primeiro-ministro nele. Para a situação envenenada em que vivemos, não se arranjava pior.»

Vasco Pulido Valente citado por Eduardo Pitta no Da Literatura

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