segunda-feira, 15 de novembro de 2010

As Intermitências de um Vasco

Já todos sabemos que Vasco Pulido Valente é um cronista bicentenário – em cada cem crónicas há uma boa.
Enfim, lá deixa a sua prosa habitual, comatosa, para escrever um texto de jeito.
Foi o que aconteceu na última sexta-feira no Público.
Em “E assim por cá andamos” discorreu sobre um tema velho e relho mas, infelizmente ainda atual.
Como escreve Vasco “Portugal tem 308 municípios, na maioria quase sem ninguém, e 4260 freguesias, muitas, sobretudo em Lisboa e no Porto, maiores do que municípios…” e conclui o retrato da divisão administrativa do país sublinhando que “ nem um único Governo – em 155 anos – se atreveu a tocar na administração local. O mundo mudou. Portugal mudou. Só ela não muda.”
“Porquê?...Primeiro porque os partidos se alimentam dela. Os militantes que não conseguem encaixar nos ministérios…recebem a sua espórtula numa câmara qualquer ou em empresas municipais…Depois porque uma quantidade razoável de municípios se tornou uma espécie de propriedade privada de algumas “máfias”, sabiamente distribuídas pelo PS e pelo PSD. E, por fim, porque Lisboa suspeita, e suspeita bem, que o velho ódio ao Terreiro do Paço não desapareceu e, conhecendo a fraqueza do patriotismo nacional, não quer declarar guerra ao patriotismo regional…E assim, entre a miséria e a cobardia, por cá andamos.”
Em minha opinião vale sempre a pena penarmos na maior parte das crónicas de Valente para encontrarmos, de quando em vez, um naco tão saboroso.

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