Quando os países árabes, após anos de trabalho de sapa feito essencialmente de conexões Internet clandestinas e de telesobrecarga de produtos culturais decadentes, puderam enfim ter acesso a um modo de vida baseado no consumo em massa, na liberdade e nos lazeres, a atracão das populações revelou-se tão intensa e tão viva quanto o fora, meio século antes, nos países comunistas. O movimeno começou, como muitas vezes na história humana, na Palestina, mais precisamente de uma súbita recusa das jovens palestinianas a reduzir a sua existência à procriação repetida de futuros djihadistas, e do seu desejo de beneficiar da liberdade de costumes que possuíam as suas vizinhas israelitas. Em poucos anos, a mutação, sustentada pela música techno (com a atracão pelo mundo capitalista o fora alguns anos antes pelo rock , e com uma eficáia ainda acrescida pelo uso da internet) espalhou-se pelo conjunto dos países árabes, que tiveram de enfrentar uma revolta maciça da juventude, e não conseguiram vencê-la, como é evidente. Tornou-se então perfeitamente claro, aos olhos das populações ocidentais, que os países muçulmanos só tinham sido mantidos na sua fé primitiva pela ignorância e o constrangimento; privados da sua base de apoio, os movimentos islamitas ocidentais desmoronaram-se num ápice.
Michel Houellebecq A Possibilidade de Uma Ilha (2005)
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