quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Dignidade do Presidente?


Dignidade de Estado
Há seis dias, a líder do PSD pediu uma audiência ao Presidente da República e foi ao Palácio de Belém falar sobre o reconhecimento da independência do Kosovo, que estava a ser cozinhado nas Necessidades. À saída, Manuela Ferreira Leite afirmou que tinha ido a Belém porque entendeu "ser essencial conhecer a posição do Presidente da República sobre a matéria". Abriu um precedente.
Hoje, o presidente do CDS/PP foi apresentar as suas propostas para "ajudar a classe média e os idosos" na luta contra a crise económica. Mas deixou escapar que a audiência também era para tentar "perceber o pensamento" de Aníbal Cavaco Silva sobre estas matérias. Paulo Portas, que não dá ponto sem nó, entendeu a aberta que Ferreira Leite deixou. E escancarou a porta de Belém. Numa atitude mais digna dos seus tempos de director do semanário O Independente, que fez a vida negra aos governos de Cavaco Silva, Portas acabou por afectar aquilo que é a dignidade da função presidencial. Um líder de um partido não vai a Belém para tentar perceber nada de nada. Ou sabe o que o Presidente pensa sobre um dado assunto ou, se não sabe, procura informar-se. Nunca, mas nunca, o admite publicamente e tenta resolver a questão no encontro em Belém.
Entre as funções presidenciais não está certamente o esclarecimento dos líderes partidários, sejam eles quais forem, próximos ou afastados da sua linha de intervenção directa. Dizer-se que uma audiência em Belém serve para tentar perceber melhor o que o PR pensa num ou noutro aspecto da acção política é esvaziar o papel institucional do Chefe do Estado e o seu magistério de influência. Manuela Ferreira Leite, provavelmente sem o querer fazer, e Paulo Portas, claramente com intenção, acabaram por diminuir a aura de Cavaco Silva. Este, sendo um institucionalista na sua forma mais acabada, não respondeu ainda à afronta. Quando o fizer, irá doer.

FAL no Corta-Fitas

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