sábado, 15 de maio de 2010

Efeitos da Crise (II)

...E o que tem tudo isto a ver com a crise financeira que vivemos? Nada ou tudo.
Depende da perspectiva com que olhamos as coisas: um país que se contenta com as aparências , que toma por genuíno o que não passa por oportunismo, que não escrutina o mérito nem questiona socialmente os pantomineiros, está condenado ao fracasso. Na economia como no resto.
Tal como na Grécia, o défice público e a dívida acumulada pelo Estado são o resultado direto de anos a fio de cedência a aparências, facilidades, reivindicações demagógicas e apoios não justificados.
Acham que alguém aprendeu a lição?
Não; leiam os blogues ou os comentários dos leitores de jornais - "eles", os sucessivos governos, é que nos desgovernaram; "nós", o bom povo, nada fizemos para merecer esta catástrofe. É verdade, sim, que eles nos desgovernaram, mas em obediência à vontade do bom povo e porque ceder à demagogia e à facilidade vale muitos votos. Os enfermeiros querem ser doutores? O Governo cede. Os professores querem ser todos classificados com "muito bom"? A oposição aplaude e o Governo rende-se. O Ministério Público  quer ter o sagrado direito de trabalhar sem prazos e os venerandos conselheiros do Supremo querem-no limpar de processos, limitando a possibilidade de recurso? O Governo concorda.Os militares, os polícias, os bombeiros, querem o "legítimo" direito de receber um subsídio de risco por fazerem aquilo para que foram contratados e treinados? O Governo acha justo.O dr.Madaíl quer dez novos estádios para um Europeu de futebol que até o Presidente Sampaio afirmou ser um "desígnio nacional"? O país festeja - e já se candidata a um Mundial e suspira por uns Jogos Olímpicos...

Miguel de Sousa Tavares no Expresso (excerto)

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