domingo, 1 de fevereiro de 2009

De Olhos Bem Fechados


O Meu Pai

...Agora estou aqui, no teu escritório, com uma das tuas bengalas na mão, a olhar os teus livros, o calendário com imagens de Paris, o cartão que mandaste imprimir há muitos anos com a citação: "Qualquer que seja o número de problemas resolvidos pelo Homem, ele tomará sempre a seu cargo um número igualmente grande de problemas novos". E penso na conquista do Espaço.
Na imensidão e na maravilha do Universo.
Penso no homem na Lua.Penso em coisas impossíveis que no entanto acontecem. O que eu lutei, pai, naquela noite, para manter os olhos abertos.
...De te amar tanto, nunca consegui confessar-te isto: naquela noite, eu também adormeci, antes de Armstrong ter caminhado sobre a Lua. as pálpebras pesavam-me como chumbo e eu não aguentei. Mas vi tudo. Lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje. Lembro-me de ter visto, porque tu viste, enquanto eu dormia no teu ombro.

Paulo Moura (excerto de texto no Público)

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