sábado, 18 de abril de 2009

São José e o Menino Vasco


“(…) esta escolha [a de Paulo Rangel] indicia um frontal desejo de clivagem na forma de fazer política em Portugal, por parte de Manuela Ferreira Leite, não sendo este um sinal isolado. Ele vem na sequência de um magistério na presidência do partido que se tem caracterizado por soluções e atitudes de ruptura com a forma vigente e tida como correcta pelo mainstream do poder em Portugal.”

São José Almeida

O que hoje aflige é a falta de gente com algum estatuto e algum prestígio naquele que foi durante quase 15 anos considerado "o partido natural de governo". Quando saiu, Cavaco não se preocupou com a sucessão e deixou atrás de si o vazio. A famosa "elite" que ele promovera debandou logo. Como típico produto do conservadorismo português, nunca estivera verdadeiramente interessada na política e resolveu aproveitar o vago lustre e a vantagem que o governo lhe dera para se meter a toda a pressa no seu ambiente natural: empresas do Estado, banca, fundações, negócios. No PSD ficou a parte "plebeia" ou inempregável e meia dúzia de aficionados sem destino.
O "pós-cavaquismo" (desculpem a palavra) instituiu a regra de que o partido existia para servir o pessoal dirigente e não o pessoal dirigente para servir o partido. Não ocorreu a nenhum antigo "notável" ajudar a resolver esta perpétua e parece que irresolúvel crise. Como não ocorreu aos pequeníssimos personagens de agora desistir de uma ambição ou outra em nome de um objectivo comum, por trivial que fosse. As facções só querem e só pensam em se apropriar de uma parte do cadáver do PSD. Se a surpreendente designação de Rangel é um acto de sectarismo (e, à primeira vista, parece), é também um sinal de pobreza. Tirando Marques Mendes, não havia melhor. Ou, se havia, o que havia de melhor preferiu o seu cantinho e o seu emprego, para gozar descansadamente a vida, longe dos torpes sarilhos da política.

Vasco Pulido Valente

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