Há vários meses que a grande aposta de Ferreira Leite e do PSD consiste na permanente reivindicação da posse da verdade. O seu lema central, repetido ad nauseam e escrito em todos os cartazes, é "Politica de verdade". Isso equivale a uma só mensagem constantemente transmitida aos potenciais eleitores: nós estamos na posse da verdade, os nossos adversários políticos apenas dizem mentiras.A história das ideias mostra que aqueles que reivindicaram a totalidade da verdade foram sempre contra a democracia. O nazi-fascismo considerava deter uma verdade incontestável sobre a pureza rácica e a consequente autorização para o genocídio. O socialismo científico considerava-se autorizado a exercer todas as violências contra aqueles que se atravessassem no caminho do processo histórico que levaria à sociedade comunista. Trata-se de dois casos extremos e não equiparáveis ao do PSD de Ferreira Leite, como é óbvio. No entanto, precisamente pelo seu extremismo, estes casos mostram com especial clareza a perversidade da reivindicação do monopólio da verdade.Há que dizer duas coisas sobre o papel da verdade num regime democrático. A primeira tem a ver com a verdade em sentido empírico, ou factual. Esta é extremamente importante.
Mas não é sério atribuir-se a si mesmo a totalidade da verdade e ao adversário a totalidade das mentiras.
Qualquer generalização deste tipo é inaceitável. Quando se detecta alguma mentira factual no adversário é necessário expô-la e prová-la, caso a caso. Em segundo lugar, a democracia não é um regime consentâneo com a ideia de uma verdade absoluta em sentido político-normativo. Em democracia admite-se o pluralismo, e com ele a ideia de que nenhum partido detém a totalidade da verdade política. Aceitar esse pluralismo e ser capaz de viver com ele, sem ceder à tentação de diabolizar o adversário, é a pedra-de-toque do espírito democrático. Por isso, em democracia existe sempre um conceito e o seu contrário: direita e esquerda, socialismo e conservadorismo, europeísmo e nacionalismo, governo e oposição, etc. A linguagem da verdade política absoluta equivale à negação ou à subalternização deste aspecto central da vida democrática.Em suma: uma estratégia consequente com o respeito pela verdade empírica e pelo pluralismo democrático consiste em ser sério na discussão dos factos e em apresentar projectos alternativos aos dos adversários - mas não em atribuir-se a si mesmo a totalidade da verdade, empírica ou política. Reivindicar o monopólio da verdade equivale, em última instância, a mentir sobre o carácter intrinsecamente argumentativo e pluralista da democracia.
Mas não é sério atribuir-se a si mesmo a totalidade da verdade e ao adversário a totalidade das mentiras.
Qualquer generalização deste tipo é inaceitável. Quando se detecta alguma mentira factual no adversário é necessário expô-la e prová-la, caso a caso. Em segundo lugar, a democracia não é um regime consentâneo com a ideia de uma verdade absoluta em sentido político-normativo. Em democracia admite-se o pluralismo, e com ele a ideia de que nenhum partido detém a totalidade da verdade política. Aceitar esse pluralismo e ser capaz de viver com ele, sem ceder à tentação de diabolizar o adversário, é a pedra-de-toque do espírito democrático. Por isso, em democracia existe sempre um conceito e o seu contrário: direita e esquerda, socialismo e conservadorismo, europeísmo e nacionalismo, governo e oposição, etc. A linguagem da verdade política absoluta equivale à negação ou à subalternização deste aspecto central da vida democrática.Em suma: uma estratégia consequente com o respeito pela verdade empírica e pelo pluralismo democrático consiste em ser sério na discussão dos factos e em apresentar projectos alternativos aos dos adversários - mas não em atribuir-se a si mesmo a totalidade da verdade, empírica ou política. Reivindicar o monopólio da verdade equivale, em última instância, a mentir sobre o carácter intrinsecamente argumentativo e pluralista da democracia.
João Cardoso Rosas
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