domingo, 18 de novembro de 2007

"Se houver um milagre"


""A Igreja" , advertiu o papa, "não deve falar primariamente de si mesma, mas de Deus",

O Papa não se engana. A Igreja portuguesa sempre falou, e tratou, "primariamente", de si mesma.

Pela sua propriedade e privilégios, defendeu o Estado absolutista e, a seguir, o Estado liberal. Embora perseguida depois de 1910, resistiu à República, em grande parte, para recuperar o seu antigo poder.

Engendrou Salazar e o Estado Novo e só com Marcelo, quando o regime lhe pareceu abalado, se afastou um pouco. Mediu constantemente a sua força e a sua saúde pela influência que tinha sobre o Estado e os benefícios que recebia dele.

Por outras palavras, como qualquer instituição do século, foi guiada por critérios políticos. Vem agora confessar o patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, que a Igreja deve ser "menos clerical". Que devia, devia. Mas será que se consegue reconverter?


A história da Igreja desde o "25 de Abril" não é animadora. O próprio D. José ameaçou Cavaco com uma guerra eleitoral, se Cavaco não lhe desse a TVI ( que, de resto, e para desgraça dele, acabou por dar ). E a Universidade Católica, por exemplo, uma das melhores do país, serviu principalmente para formar uma "élite" dirigente e governante, de que a Igreja esperava protecção. Daí os cursos de Direito, Economia e Gestão ( com um centro de sondagens pelo meio ) , em vez de cursos de "Humanidades", que afirmassem e criassem uma cultura católica contra o tal "relativismo" e o tal "indiferentismo" do tempo.

Nem a democracia nem a crise interna bastaram para reformar a Igreja portuguesa. Talvez baste a autoridade do Papa Ratzinger . Se houver um milagre."

Vasco Pulido Valente na sua coluna de Opinião no Publico do Passado Sábado.

Texto que deveria ser lido por muitas sumidades que por aí peroram sem um minímo conhecimento de causa. Considerando que peroram de boa-fé, o que não é um dado adquirido.

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