sexta-feira, 16 de maio de 2008

Portugal dos Presumidos (Do Intelecto)


"Mario Spinelli, o chef do Fabrizio's, conhece bem a pasta enquanto expressão da rigidez do neo-realismo italiano. Spinelli amassa lentamente a sua pasta. Permite um acumular de tensão entre os clientes, enquanto permanecem sentados a salivar. Os seus fettucini, oblíquos e maliciosos quase até à perversidade, devem muito ao Barzino's, cuja utilização de fettucini enquanto instrumento de mudança social é bem conhecida de todos nós. A diferença é que, no Barzino's, o cliente é induzido a esperar fettucini brancos, e de facto obtem-nos. Aqui, no Fabrizio's, obtém fettucini verdes. Porquê? Parece tudo tão gratuito. Enquanto clientes, não estamos preparados para a mudança. Por essa razão, a massa verde não nos diverte. È desconcertante, embora o chef não o pretendesse. O linguine, por outro lado, é verdadeiramente delicioso e nada didático. È verdade que existe nele uma difusa índole marxista , mas está oculta pelo molho. Há anos que Spinelli é um dedicado comunista italiano, e tem alcançado grande sucesso ao defender o seu marxismo incluindo-o subtilmente nos tortelinni.
Comecei a minha refeição com um antipasto, cujo propósito me escapou de ínicio. Mas, à medida que me concentrava mais nas anchovas, a sua ideia central foi-se tornando mais clara. Estaria Spinelli a dizer que a vida inteira estava representada aqui neste antipasto, tendo as azeitonas negras com insuportável lembrete da mortalidade? Se assim era, onde estava o aipo? Seria uma omissão deliberada?..."

Woody Allen em Fabrizio's:Criticism and Response

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