segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Revisões ou os Fantasmas do Cavaquismo


“O Independente” era um jornal malcheiroso com um significado que o ultrapassava: as primeiras páginas que o tornaram famoso eram o sinal mais expressivo do período em que os enriquecimentos ilícitos foram a questão central da política portuguesa.
No Governo estava Cavaco Silva e o dinheiro jorrava de Bruxelas; era preciso gastá-lo depressa – constava ser esta a posição de Cavaco – senão o direito de o receber caducava. Foi assim que tudo começou.
“O Independente” com as suas indignações fulminantes reflectia muito bem o despeito de quem já estava instalado perante a rapidez com que políticos, que vinham para Lisboa com carros a cair aos bocados, passavam para BMW topo-de-gama.
De vez em quando um deles tinha um processo-crime, apesar da justiça desse tempo ainda funcionar pior do que a de hoje. Então, quando o processo era arquivado por falta de provas, Cavaco Silva mostrava a sua indignação pelo modo como jornalistas sem escrúpulos e magistrados incompetentes manchavam a reputação de homens impolutos.
Não é que os jornalistas de “O Independente”fossem muito escrupulosos ou que os magistrados fossem muito competentes. Que os tais homens fossem impolutos é que era mais duvidoso.
È isso que dá um imperdível odor de “déjà vu” ao caso BPN.
…Afinal de contas a respeito de má moeda e de boa moeda, a situação (para mal dos nossos pecados) não é tão clara como parecia há alguns anos.

J.L.Saldanha Sanches no Expresso

O cavaquismo foi o tempo de todas as oportunidades. O dinheiro entrava no país e evaporava-se em obras públicas, é verdade, mas também em cursos de formação-fantasma, em universidades privadas manhosas e numa casta de novíssimos ricos. Foi assim que o cavaquismo morreu. Submerso em escândalos pequenos e grandes, de que o jornal de Paulo Portas dava conta, com pontualidade semanal. Depois da experiência o PSD nunca mais foi o mesmo. O país, esse, perdeu a sua última oportunidade histórica. Aquele dinheiro nunca mais volta e estamos hoje na cauda da Europa. Acabou a festa e vivemos a ressaca.
... O Presidente, que se preparava para um fim de carreira sem sobressaltos, enfrenta agora os fantasmas do passado. Para desespero de Cavaco e do PSD, o cavaquismo voltou para o ensombrar. È a criatura a tentar regressar ao regaço do criador.

Daniel Oliveira no Expresso

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