domingo, 14 de dezembro de 2008

Mitos Portugueses


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É verdade que uma pessoa fazer 100 anos é notável e enternecedor. Mas é-o se a pessoa for próxima de nós. É também notável, para quem se interesse por isso, que um cineasta nacional seja reconhecido internacionalmente. Acontece que Manoel de Oliveira não me é próximo e as coisas do reconhecimento do que é nacional não me movem (a sério, juro, não tenho culpa). Já mais importante é reconhecer que para compreender e gostar de arte é preciso treino e estudo. É verdade. Acontece, porém, que não me considero um embrutecido nesse campo - embora seja francamente mais deficiente em cinema, arte que me seduz mas não me entusiasma - pelo que aceito ser deficitária a minha opinião. Posto isto, espreitei ontem um pedaço de um filme de Oliveira sobre Colombo ou a propósito de Colombo. Passou na RTP, a jeito de prenda. Doeu tanto que senti o mesmo tipo de aflição que se sente quando um amigo representa mal em palco ou comete uma burrada que sabemos não representar as suas capacidades. Não percebo, prontoS, como grafaria a f. Não percebo mesmo. Ainda assim reservo-me o direito de dizer que não gostei dos filmes de Oliveira que vi - nem dos que vi um terço, antes de sair da sala - e que não tenho nada a ver com a insuportável paixão nacionaleira que permeia muitos dos seus filmes, como se houvesse algo de extraordinário e complexo e original em ser português (ou isso tivesse a mais remota importância).

Miguel Vale de Almeida no Os Tempos Que Correm

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