sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Um Herói Às Direitas


...Hoje, o discurso do dr. Medina Carreira é música celestial para os ouvidos da oposição de direita. Mas como o país continua a não produzir, e o dinheiro não cai do céu, e o dr. Medina Carreira corta (ou gostaria de cortar) a direito, se ele por acaso fosse primeiro-ministro — coloco a hipótese no quadro constitucional vigente —, não me surpreenderia se o visse a tomar medidas drásticas. Quais? Despedir (sim, despedir; não é preciso falar verdade aos portugueses?) um terço dos funcionários públicos, congelando os salários dos restantes pelo prazo de uma legislatura. Aumentar a carga fiscal e, mais importante, aumentar a eficácia da sua cobrança. E por aí fora. Ou acham que o dr. Medina Carreira quer pôr os portugueses a ganhar salários iguais aos do Luxemburgo, baixar a carga fiscal, acabar com a avaliação dos professores, reabrir as maternidades que Correia de Campos mandou fechar, extinguir a ASAE, ressuscitar os subsistemas de saúde dos magistrados, militares e polícias, ou acabar com a lei do divórcio? Não. O dr. Medina Carreira está preocupado com números. E os números, na sua (dele) óptica, não vão lá sem um forte abanão. O dr. Medina Carreira está espantado com o nível de vida dos portugueses das classes trabalhadoras, os quais, segundo ele (e muita gente concorda), vivem na estratosfera das suas possibilidades. Não são os ricos que o preocupam, nem sequer as altas classes médias. São os trabalhadores que vivem como europeus. Não perceber isto é não perceber nada do que ele diz. As mesmas pessoas que acusam Sócrates de arrogância e o actual governo de ser o responsável pelo empobrecimento da sociedade portuguesa, ficam extasiadas a ouvir o dr. Medina Carreira acusar Sócrates e o actual governo de serem moles no tratamento da economia, razão pela qual ainda não estamos todos de tanga. Muitos daqueles que agora batem palmas seriam os primeiros a sofrer as consequências do equívoco.




Excerto de um post de Eduardo Pitta no Da Literatura

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