quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Crónica Feminina?


…Por uma série de razões muito pouco racionais, o português ama e odeia, em simultâneo, os poderosos, e tende a desconfiar das maiorias absolutas. Pode concedê-las, de vez em quando, por desespero, mas depois desata a maldizê-las. Facilmente cai na candura de pensar que, aumentando a força do contra-poder, aumentará a qualidade da democracia. Na prática, executivos minoritários são, de facto, muito menos eficientes – metade do tempo e da verba que deviam gastar a governar, gastam-nos a negociar lugares e prebendas com a oposição, para conseguir que as suas políticas não sejam vetadas. E governar torna-se, assim, um dispendioso jogo do empurra: se determinadas medidas não foram tomadas, foi porque os outros meninos não deixaram. Com a agravante de que o menino que melhor souber chorar sobre o leite derramado, ou fazer esquecer o leite que ele próprio derramou, é demasiadas vezes o vencedor.

Inês Pedrosa no Expresso

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