Deixemo-nos de sofismas:na maioria dos países islâmicos (que são estados confessionais, coisa que nenhum país dito católico hoje é) as mulheres não são abrangidas pelos direitos humanos: têm de obedecer cegamente aos homens, a vida pública é-lhes praticamente interdita e estão legalmente sujeitas a toda a espécie de sevícias, desde a mutilação genital ao apedrejamento até à morte. Não podemos continuar a consentir este martírio, cobrindo-o com a burqa da "diferença cultural"...
... Na nossa cultura, não se percebe com que direito pode alguém exigir a um mentor espiritual que se retracte por dizer o que pensa, ou por aconselhar as pessoas a que pensem no que fazem. Aliás, os conselhos do patriarca da Igreja católica Portuguesa dirigem-se, em princípio, aos seus fiéis. A razão de ser das Igrejas é essa: guiar as almas pelo bom caminho até à vida eterna. Em todas as religiões o bom caminho é estreito, mas há importantes diferenças de grau nessa estreiteza. Acresce que, no Ocidente, só reza e obedece quem quer. E todos têm o direito de recomendar cautelas ou a dizer coisas desacauteladas. A mim, as coisas que ele disse pareceram-me apenas evidências sensatas. Sejam-no ou não, assiste-lhe a laica lei que nos dá, a todos, o direito de dizer.
Inês Pedrosa no Expresso
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