Os balanços produzem passado sem tempo
Agora, que já passou a semana do ritual dos balanços anuais, devemos olhar com alguma distância as ilusões que se exibem nesse exercício que transforma em fantasmagoria o que se passou ao longo de um ano. Tal exercício é uma caricatura daquela “doença histórica” diagnosticada por Nietzsche, e á qual atribuía o efeito de esterilizar e aniquilar as forças criativas. Estes balanços anuais servem para produzir aquilo que a nossa época produz com mais abundância e euforia: passado, história. Consciente disso Robert Rauschenberg reivindicou uma vez “mais tempo, menos história”. Mas a ilusão dos balanços, baseada na ideia de uma perpétua actualização da história, para a qual há cada vez menos tempo, só pode ser compreendida tendo em conta uma outra fantasmagoria: a do “novo”, do inédito, do que nunca aconteceu antes, em todos os domínios. Os balanços produzem a ilusão de que tudo está sempre a recomeçar, de que assim estamos a chegar a horas à nova época, de que não perdemos nada. Mas aquilo que se apresenta como uma ocasião, irá novamente ser transformado em passado antes de fazer efeito.
António Guerreiro no Expresso
Agora, que já passou a semana do ritual dos balanços anuais, devemos olhar com alguma distância as ilusões que se exibem nesse exercício que transforma em fantasmagoria o que se passou ao longo de um ano. Tal exercício é uma caricatura daquela “doença histórica” diagnosticada por Nietzsche, e á qual atribuía o efeito de esterilizar e aniquilar as forças criativas. Estes balanços anuais servem para produzir aquilo que a nossa época produz com mais abundância e euforia: passado, história. Consciente disso Robert Rauschenberg reivindicou uma vez “mais tempo, menos história”. Mas a ilusão dos balanços, baseada na ideia de uma perpétua actualização da história, para a qual há cada vez menos tempo, só pode ser compreendida tendo em conta uma outra fantasmagoria: a do “novo”, do inédito, do que nunca aconteceu antes, em todos os domínios. Os balanços produzem a ilusão de que tudo está sempre a recomeçar, de que assim estamos a chegar a horas à nova época, de que não perdemos nada. Mas aquilo que se apresenta como uma ocasião, irá novamente ser transformado em passado antes de fazer efeito.
António Guerreiro no Expresso
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