sábado, 10 de janeiro de 2009

E Agora, um Máximo Histórico, A Não Perder!


Os balanços produzem passado sem tempo
Agora, que já passou a semana do ritual dos balanços anuais, devemos olhar com alguma distância as ilusões que se exibem nesse exercício que transforma em fantasmagoria o que se passou ao longo de um ano. Tal exercício é uma caricatura daquela “doença histórica” diagnosticada por Nietzsche, e á qual atribuía o efeito de esterilizar e aniquilar as forças criativas. Estes balanços anuais servem para produzir aquilo que a nossa época produz com mais abundância e euforia: passado, história. Consciente disso Robert Rauschenberg reivindicou uma vez “mais tempo, menos história”. Mas a ilusão dos balanços, baseada na ideia de uma perpétua actualização da história, para a qual há cada vez menos tempo, só pode ser compreendida tendo em conta uma outra fantasmagoria: a do “novo”, do inédito, do que nunca aconteceu antes, em todos os domínios. Os balanços produzem a ilusão de que tudo está sempre a recomeçar, de que assim estamos a chegar a horas à nova época, de que não perdemos nada. Mas aquilo que se apresenta como uma ocasião, irá novamente ser transformado em passado antes de fazer efeito.

António Guerreiro no Expresso

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